Talvez seja esperado pela maioria dos nossos leitores que um site especializado em notícias da Tesla, como o nosso, traga publicações com viés positivo e otimista em relação a empresa de Elon Musk. Se você espera ou deseja isso, sinto decepciona-lo. Nem sempre será assim!

Nós admiramos a Tesla e o seu CEO pelo enorme avanço que eles tem proporcionado ao mercado de carros elétricos e sobretudo a possibilidade de um dia termos um planeta movido a energia limpa, e é justamente por isso que entendemos ser necessário incentivar em nossa comunidade uma visão crítica que seja capaz de distinguir a possível genialidade de Elon Musk, de algumas pisadas na bola que ninguém está livre de dar.

Quando se fala em Elon Musk, parecem haver apenas duas opções possíveis: idolatria sem limites ou um ódio difícil de entender.

Na minha opinião, Elon Musk se aproxima rapidamente do título de "gênio" com a sua metralhadora de feitos inacreditáveis. Inclusive estando um degrau acima da dupla sempre mencionada, Steve Jobs e Bill Gates.

Musk parece ter uma capacidade de juntar um vasto conhecimento técnico a uma visão de negócio rara, que é capaz de tirar causas nobres do papel e trazer para a realidade em uma velocidade surpreendente (ainda que suas estimativas de prazo nem sempre se confirmem certeiras, alias, as vezes isso me parece até algo estratégico. Como no caso do burro que precisa da cenoura pendurada em sua frente para correr mais depressa).

Estou escrevendo esse artigo para dizer que é possível ter uma visão ponderada sobre Musk e suas empresas. Nem tudo que ele faz é genial quanto seus fãs fervorosos acreditam, nem tão medíocre quanto seus críticos ostentam. Alias, falando em críticos, vimos muitos deles, principalmente ligados ao mercado financeiro, prevendo a eminente falência da Tesla pelos mais diversos motivos.

Em geral os gestores do mercado classificam a qualidade de uma empresa com base em sua governança e capacidade de gerar caixa, predicados que a Tesla realmente não se destaca quando comparada a empresas tradicionais bem sucedidas. Essa técnica parece ser bastante eficiente para analisar a maioria das empresas, mas na minha opinião, nem todas. Em especial as ligadas a tecnologia.

Para exemplificar e expandir o nosso horizonte, vou dar espaço ao contraditório e citar Marcelo López, gestor da L2 Capital e colunista do InfoMoney, site onde já publicou várias críticas pesadas a Tesla e Musk, como a dessa semana:

• Fracasso da Tesla em ser incluída no S&P 500 escancara engodo na contabilidade da empresa

Em resumo, o artigo acima sugere que mesmo com uma contabilidade criativa para cumprir os pré-requisitos, a Tesla não conseguiu entrar para o principal índice de ações do mercado americano e por isso amargou uma queda de mais de 20% em seu valor patrimonial, proporcionando a maior baixa da história da empresa na bolsa de valores.

O que não foi dito, é que o mercado como um todo sofreu uma significativa correção nos preços devido a fortes altas recentes provocadas por incentivos do governo americano devido a pandemia do coronavirus, onde inclusive empresas consolidadas como a Apple caíram mais de 15% no mesmo período.

Não quero personificar a discussão, até porque existem várias pessoas e principalmente analistas de empresas que compartilham a opinião do Marcelo, não só no Brasil, mas em todo o mundo. A intenção aqui é mostrar que mesmo discordando, podemos utilizar a opinião contraria para refletir e eventualmente até fortalecer nossas convicções.

Acima temos um gráfico com o histórico do valor de uma ação da Tesla, que em 2018 valia, com o preço ajustado, aproximadamente 70 dólares. Mesmo ano em que Marcelo profetizou:

• Tesla, o embuste da década

A minha visão negativa de Tesla é realmente 360º - De todos os pontos, ângulos e maneiras que eu olho, vejo problemas. Não podemos nos esquecer dos sucessivos problemas com o autopilot, que seria o maior diferencial da empresa, nem do imbróglio com a Panasonic. Há ainda potenciais passivos com os inúmeros acidentes ocorridos envolvendo seus carros, diversos relatos de clientes do Model 3 que voltam para consertar seu veículo com menos de uma semana, além de complicações com as máquinas e robôs que compõem as fábricas.

Marcelo López
14 maio 2018

O ano de 2018 realmente foi difícil para empresa, assim como os anteriores, porem de lá pra cá a Tesla conseguiu resolver vários de seus problemas e ao contrário do que o Marcelo parecia esperar, as ações da empresa subiram mais de 500%, dando um salto histórico a ponto de o próprio Elon Musk dizer publicamente que achava que suas ações estavam valendo mais do que deveriam.

Marcelo e muitos analistas ao redor do mundo continuam apostando suas reputações de gestores de recursos ao afirmar que a Tesla não tem futuro, mas ao que me parece, com cada vez menos convicção. Já que em 2018 ele parecia tratar a falência como algo eminente, enquanto agora o discurso é um pouco mais suave:

Esse é o fim da empresa? Duvido muito. Como a Tesla já levantou mais de US$7 bilhões esse ano (algo que Musk havia prometido várias vezes que não faria), ela tem caixa para continuar queimando e manter o movimento de hype por mais alguns anos.

Marcelo López
9 set 2020

Confesso que gosto de ler os artigos do Marcelo como uma forma de validar minha forma de pensar, inclusive concordando com ele em alguns pontos. Porem me parece que a cada dia que passa, as chances da Tesla fracassar ficam cada vez menores.

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